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FRANK REVISITED



da cronologia factual à curvatura emocional
No ano em que se celebra os 80 anos do nascimento de Anne Frank, FRANK explora a personagem única do século XX e da história da humanidade nas entrelinhas de um registo diário da menina-mulher a quem foi roubada a adolescência. Publicado postumamente pelo seu pai, Otto Frank, O Diário de Anne Frank, oferecido no seu 13º aniversário, documenta a sua vida de 12 Junho 1942 a 1 Agosto 1944.
Annelies Marie Frank, nasceu a 12 Junho 1929 em Frankfurt am Main, Alemanha. Anne, e a sua família, mudaram-se para Amesterdão em 1933, depois da ascensão nazi na Alemanha. Com a ocupação da Holanda e com o início da perseguição judia, a família escondeu-se, a partir de Julho de 1942, num 'anexo secreto' no edifício de escritórios de seu pai. Depois de dois anos, a 4 Agosto 1944, os Frank, os van Pelses e Pfeffer foram descobertos pela Gestapo e transportados para campos de concentração. Anne morreria sete meses depois em Bergen-Belsen, dias antes da libertação do campo pela força militar britânica a 15 Abril 1945.
Het Achterhuis, publicado em 1947, foi mais tarde traduzido para inglês como Anne Frank: The Diary of a Young Girl. O diário inicialmente uma expressão privada dos seus pensamentos íntimos, descreve a vida no anexo, num registo entre o real e o ficcional, demonstrando a vontade de escrever ficção.
Em Março 1944, um programa de rádio de Gerrit Bolkestein anunciou a vontade de criar um registo público dedicado à opressão dos judeus holandeses durante a ocupação Nazi daquele país, mencionando a possibilidade de publicação de cartas e diários. Anne iniciou logo a edição dos seus escritos, retirando secções e reescrevendo outras, com vista à publicação do diário. O diário original foi complementado por cadernos adicionais e folhas de papel soltas, criando pseudónimos para os companheiros do esconderijo e para os ajudantes. Na versão editada, a família van Pels tornou-se Hermann, Petronella e Peter van Daan, e, Fritz Pfeffer tornou-se Albert Dussel, passando todas as entradas a ser dirigidas à sua amiga imaginária, Kitty. O diário descreve as situações mais banais de uma vida compartimentada entre as paredes assimétricas de um anexo que acolheu sete judeus durante dois anos, oferecendo o relato peculiar da vida em comum, bem como a visão crítica do mundo, durante o domínio Nazi e a Segunda Guerra Mundial.
Rejeitando à partida os textos dramáticos existentes, FRANK volta a explorar as entrelinhas do diário, criando uma narrativa que, ao desvinvular-se da cronologia factual das entradas no diário, acompanha, não o crescimento físico da adolescente ou o desenrolar da guerra, mas redescobre a curvatura emocional da menina-mulher, pontuada por flashes atemporais que dão vida às mais íntimas imagens latentes da mente delirante da jovem judia.

um monólogo em contra-cena
Explorando pequenos episódios subliminarmente descritos no diário, o monólogo para uma actriz, desmultiplica-se em inúmeras personagens reais e fictícias, numa série de fragmentos que misturam realidade e ficção, registo factual e alucinação emocional. Um percurso marcado pela desorientação espacial, apesar da localização específica no espaço definido do anexo, revelando uma acção marcada pela repetição própria do registo do dia-a-dia, que enfatiza ainda mais o surreal da situação vivida.
FRANK explora assim um espaço intersticial, testando os limites do monólogo e da própria linguagem teatral, explorando a contracena não com outro actor mas com um músico que dialoga em tempo real com a actriz, que por sua vez, dialoga com uma série de personagens, revelando a delicadeza e o sentido crítico, a inteligência e a ingenuidade, o amadurecimento precoce e a coragem, de uma 'consciência intacta e invulnerável', como Ernst Schnabel referiu no Rasto de Anne Frank, a qual sabiamente escreveria a 22 Junho 1942: 'o papel tem mais paciência que as pessoas'.



[ poster by Emanuel de Sousa with photo by Vitor Leite; video stills by Tiago Carvalho; photo by Patricia de Sousa ]
Mais informações em http://www.estacazeroteatro.com/

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