'Vuelo fresco sobre lechos vacíos.
Sobre Grupos de brisas y barcos encallados.
Tropiezo vacilante por la dura eternidade fija
Y amor al fin sin alba. Amor! Amor visible!'
Federico García Lorca, 'Cielo Vivo' [Eden Mills, Vermont, 24.08.1929], in Poeta en Nueva York.
Sobre Grupos de brisas y barcos encallados.
Tropiezo vacilante por la dura eternidade fija
Y amor al fin sin alba. Amor! Amor visible!'
Federico García Lorca, 'Cielo Vivo' [Eden Mills, Vermont, 24.08.1929], in Poeta en Nueva York.
da poesia do realismo
ALBA é a história de uma família de mulheres solitárias num povoado distante.
Após o enterro de seu marido, Bernarda Alba decreta um luto de oito anos a todas as mulheres da casa, confinando-as ao espaço austero e claustrofóbico de sua casa.
A terceira e última peça da trilogia de dramas folclóricos do escritor espanhol Federico García Lorca (1936), divide-se em três actos, todos situados no interior da casa de Bernarda Alba, que vive com as filhas Angústias, Martírio, Madalena, Amélia e Adela, a sua mãe senil, Maria Josefa, e a criada, La Poncia. Inspirada em personagens reais e descrita por Lorca como 'um verdadeiro documentário fotográfico da vida rural', A CASA DE BERNARDA ALBA é o culminar do teatro lorquiano. Completada pouca antes do seu assassinato por simpatizantes nacionalistas, no despontar da Guerra Civil Espanhola, Lorca demonstra como o realismo pode ser elevado a um nível poético.
ALBA reduz a trama de Lorca à sua essência, as mulheres da casa, posicionando a figura feminina no centro do conflito dramático, expressando os valores imaculados da fecundidade e da liberdade de espírito, constrangidos pelas convenções sociais, de um mundo rural marcado por códigos comportamentais vigentes desde a idade média. Uma adaptação que se prendeu com a interpretação do texto, num trabalho metódico sobre a tradução, o texto e a sua oralidade, com o intuito de efectuar cortes necessários a uma economia do espectáculo e a um reforço do sentido da encenação.
De cinco filhas passamos a quatro filhas, de três criadas passamos a uma só, das dezenas de mulheres figurantes passamos a uma plateia, que apesar de continuar a ser público, se torna activa na contracena com os actores, nem todos eles mulheres como seria no original. No entanto, a introdução do elemento masculino no universo fechado da casa de Bernarda Alba, possibilitou uma renovada leitura da peça e das suas personagens.
Explorando temas de repressão e liberdade, paixão e amor, angústia e luto, conformismo e tradição, ALBA revela os efeitos dos homens sobre as mulheres e a tensão opressiva do seio familiar, conduzindo-nos ao clímax da alvorada do dia seguinte, o Amanhã.
De cinco filhas passamos a quatro filhas, de três criadas passamos a uma só, das dezenas de mulheres figurantes passamos a uma plateia, que apesar de continuar a ser público, se torna activa na contracena com os actores, nem todos eles mulheres como seria no original. No entanto, a introdução do elemento masculino no universo fechado da casa de Bernarda Alba, possibilitou uma renovada leitura da peça e das suas personagens.
Explorando temas de repressão e liberdade, paixão e amor, angústia e luto, conformismo e tradição, ALBA revela os efeitos dos homens sobre as mulheres e a tensão opressiva do seio familiar, conduzindo-nos ao clímax da alvorada do dia seguinte, o Amanhã.
uma outra identidade
O processo criativo de ALBA, teve como ponto de partida a primeira residência artística do ESTACA ZERO TEATRO, levada a cabo na Gralheira, em Agosto, durante três dias de trabalho colectivo de pesquisa teatral 'por terras onde se respira ruralidade, à procura de uma outra identidade que não a nossa'.
A paisagem montanhosa da Gralheira, proporcionou um contacto directo com a terra e com as gentes de um meio rural marcado pela tradição e pela vida comunitária semelhante ao retratado por Lorca, possibilitando aos actores a criação de memórias activas no trabalho de ‘construção da personagem'.
Num 'processo sistematicamente orientado', o estudo aprofundado do texto associado a exercícios de expressão corporal e dramática, gerou um vocabulário teatral, sucessivamente depurado e sintetizado. Todos estes exercícios foram reescritos diversas vezes, mas, por mais depurados em termos formais e plásticos, por mais coreografados em termos sonoros e visuais, acabaram por ser sempre uma acção que pretendia, na essência, activar o texto de Lorca.
Contra a expansividade do preto, a contracção do branco do dispositivo cénico, que pela sua configuração mutável se anula enquanto cenário, criando um lugar de acção, sem precisar tempo e espaço. Um não-lugar, entre o real e o imaginário, um lugar contínuo entre um passado, um presente e um futuro.
Na criação de uma experiência que unisse a tradição melodramática popular com a racionalidade do acto teatral moderno, procurou-se a objectividade cénica aliada a condições de representação minimalistas, de modo a salientar a visão crítica do texto, num equilíbrio precário entre sentimento, reflexão e participação activa do público.
Em ALBA, a curva dramática quase tradicional é subitamente interrompida, materializando o prenúncio de uma das personagens de Lorca: ‘de repente o coração pára’.
Alba é a mais recente produção do ESTACA ZERO TEATRO.