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SUITE


























LE POMPIER : "...excusez-moi, j'ai l'ordre d'éteindre tous les incendies dans la ville."
IONESCO SUITE de Eugène Ionesco
de Emmanuel Demarcy-Mota, La Comédie de Reims

Estar ao corrente é já estar atrasado; é preciso correr mais, é preciso saltar para a etapa seguinte” Ionesco
O termo suite aparece pela primeira vez numa recolha de danças de Attaingnant publicada em 1557 – trata-se de uma sucessão de movimentos mais ou menos rápidos (gavota, courante. entre outros).
Ionesco Suite é um composto de retalhos de Eugéne, o dramaturgo 'absurdo' que aqui encontra a materialização precisa do seu delírio imagético na encenação depurada e despojada de Emmanuel Demarcy-Mota.
'Os temas da acumulação e da proliferação, a rejeição das convenções, um certo tipo de empenhamento pelo teatro, uma desconstrução dos códigos das linguagens misturada com um perpétuo fascínio perante as palavras' constrói a obra de Ionesco a qual continua a ter uma inegável presença na memória colectiva. Encarado como um laboratório, a encenação propõe um work in progress, nunca terminado, jamais estagnado, que flutua na profundidade de textos sempre actuais, sempre reutilizáveis, na produção de um 'um espectáculo de geometria variável onde o número de actores, papéis, sequência de cenas, podem sofrer alterações, constituindo-se numa espécie de rapsódia teatral'.
Tudo parece retornar à quotidiana banalidade da reunião familiar, uma longa, quase infinita mesa, que se deixa habitar pelas personagens 'absurdas' da realidade de cada um, numa qualquer festa que não tem fim nem propósito. O propósito não é a festa, é o comportamento dos indivíduos nesta, e como a pressão quotidiana e a confluência de diferentes forças, provoca a reacção deste perante o outro - os outros.
Envolto numa comicidade preversa, 'se decidirmos encetar com ele um diálogo, é provável que a Sua visão do Nosso mundo nos transtorne efectivamente. Subtrair o teatro à realidade. Com humor, sim, mas um humor burlesco. Um cómico duro, sem finesse, excessivo. Nada de comédias dramáticas, tão-pouco. Mas regressar ao insuportável. Levar tudo até ao paroxismo, até às fontes do trágico. Fazer um teatro violento: violência cómica, violentamente dramática. Evitar a psicologia, ou melhor, conferir-lhe uma dimensão metafísica. O teatro advém do exagero extremo dos sentimentos, exagero esse que provoca a disjunção da frouxa realidade quotidiana', como Emmanuel Demarcy-Mota refere.
Ionesco cria este clima de estranheza, abrindo espaço ao campo da invenção, não deixando que nos 'instalemos nos hábitos'. Por detrás da graça, da loucura dos desvarios do absurdo, reside a real tensão, uma verdade e uma humanidade inegáveis, incómodas, como quando nos sentamos à mesa em família, tudo está lá. Daí que se recrie este efeito intimista com o público, numa encenação em que os próprios actores começam como espectadores, e, a certo ponto, os espectadores se metamorfoseiam em personagens do imaginário absurdo que nós mesmo produzimos e incutimos nos actores, com nossos olhares presos nos seus, perdidos numa emaranhado de palavras que sobrevoam as nossas mentes. E assim suster na discussão da diferença entre uma tartaruga e um caracol toda a nossa existência em sociedade.
O próprio cenário ecoa este depojamento, a mesa em que celebramos é o leito em que procriamos. Passamos de Jacques ou La Soumission/Jacques ou A Submissão, ao Délire à deux/Delírio a Dois, cantamos La Cantatrice chauve/A Cantora Careca, exercitando as palavras em Exercices de conversation et de diction françaises pour étudiants américains/Exercícios de Conversação e Dicção Francesas para Estudantes Americanos, para acabar com La Leçon/A Lição, para finalmente percebermos que os pequenos chapéus multicoloridos não são um mero reflexo da celebração, mas evocam o lado mais grotesco da tragédia quotidiana. Não é fatalista, é factual. A discussão da diferença entre o caracol e a tartaruga é nada mais nada menos que a eterna dificuldade em comunicar: ROBERTE: Chat... Chat.../JACQUES: Chat... Chat.../ROBERTE: Chat... Chat.../JACQUES: Chat... Chat.../ROBERTE: Chat... Cha-a-a-at.../JACQUES: Chaaaaat... Chaaaaaaaaaat...

"Dislocation aussi, désarticulation du langage" Ionesco

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